E é justamente ele que tem temperado o meu dia-a-dia que, ao contrário da maioria das pessoas, não sofreu mudanças tão drásticas. Sem o desafio de filhos em casa para cuidar, obrigo-me a ir para o atelier trabalhar. Todos os dias. Mesmo naqueles em que a criatividade fica em casa, a dormir.
Mesmo ao lado de casa, tenho sido a utilizadora solitária da Incubadora de Artes de Carnide. A logística de fornos e materiais associados à cerâmica impediu-me de ir para casa trabalhar e presenteou-me com livre acesso àquele que é um espaço onde em tempos normais estariam mais de 20 pessoas a trabalhar.
Mas agora de manhã sou a única a chegar e, à tarde, a única a partir. Os meus dias são tão silenciosos como as ruas. E quando chego ao atelier e abro as janelas para a luz entrar, sinto que impeço a minha querida Incubadora de mergulhar num sono profundo por tempo indeterminado.
Sozinha no atelier, descobri, com alegria, a proximidade que os podcasts podem criar. Os da N´A Caravana, da Rita da Ferro Alvim (que muito ouvia falar mas ainda não tinha tido tempo para ouvir) têm sido uma verdadeira companhia. As palavras e histórias destas mulheres rompem o silêncio e imprimem alguma normalidade ao meu dia. (às vezes apenas fico com pena que se foquem tanto na maternidade e não tanto na estrutura dos seus negócios e processos criativos).
Aproveito estes dias atípicos para acabar pequenas encomendas, fazer stock, explorar técnicas e avançar com peças novas, que espero brevemente lançar assim que as coisas regressem a uma certa normalidade.
Comecei também a trabalhar com grés e começo a ficar apaixonada com as possibilidades deste material que ainda não tinha experimentado. A criatividade não está em alta, mas não deixo de trabalhar.
Nas minhas pequenas pausas, quando olho para o pequeno jardim da Incubadora que se vê da minha janela, e vejo alguns gatinhos selvagens brincar despreocupadamente e a aquecerem-se ao sol, tento não me esquecer que apesar de trágica, esta situação é temporária, e que mais tarde ou mais cedo as nossas vidas regressarão ao normal. E isso dá-me ânimo para continuar.
Nas minhas pequenas pausas, quando olho para o pequeno jardim da Incubadora que se vê da minha janela, e vejo alguns gatinhos selvagens brincar despreocupadamente e a aquecerem-se ao sol, tento não me esquecer que apesar de trágica, esta situação é temporária, e que mais tarde ou mais cedo as nossas vidas regressarão ao normal. E isso dá-me ânimo para continuar.
E assim se passou uma semana, e dela ficaram estes pequenos pensamentos que partilho convosco em tópicos (para mais tarde me recordar):
- que de um dia para o outro, tudo pode mudar nas nossas vidas e que por isso não vale a pena fazer grandes planos ou querer controlar muito as coisas
- que somos altamente adaptáveis e mais resilientes que aquilo que julgamos
- que o humor e a criatividade são, sem dúvida, os melhores antídotos para a depressão, tristeza e ansiedade
- que nestes dias de crise não estamos sós na nossa solidão. A humanidade que nos liga cria pequenas pontes invisíveis que nos aproximam a todos.
Fiquem bem e até já.
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